Os desafios da alfabetização mundial

Setembro é o mês em que a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) volta às atenções para a alfabetização mundial. Por isso instituiu o Dia Internacional da Alfabetização em 8 de setembro para enfatizar a importância de reduzir os índices de analfabetismo. Apesar dos números de analfabetos no mundo ter caído consideravelmente nas últimas décadas, ainda existe uma grande parcela da população que não saber ler e escrever.

Isso sem levar em consideração os analfabetos funcionais que, mesmo tendo conhecimento em leitura e escrita, ainda possuem sérias dificuldades para interpretação e entendimento. Então, não basta os governos batalharem apenas para melhorar os números de alfabetização, é preciso oferecer um aprendizado eficiente e de qualidade, que supra as necessidades da sociedade moderna.

Por mais que a meta de cada país seja gastar, pelo menos, 6% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, se avaliarmos os grandes contrastes sociais mundiais, esse número ainda é considerado baixo. Isso porque, na maioria dos casos, o analfabetismo está relacionado ao índice de pobreza. No caso do Brasil, o investimento atual é de 5,7% do PIB e a meta é aumentar o número para 10% até 2024, conforme estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE).

Em ano eleitoral, mais do que em qualquer outro período, a questão da educação é amplamente debatida entre candidatos e propostas de governo. Porém, o tema não deve ser apenas propaganda de campanha, precisa ser enfrentado de frente. A educação de qualidade é essencial para melhorar a cultura do povo, pois abre portas para outros direitos básicos como saúde, trabalho, lazer, cidadania e outros.

Algumas soluções já existem, basta colocar efetivamente em prática. Como, por exemplo, incentivar a criação de mais escolas em período integral. Nesses modelos o aluno permanece mais tempo em contato com o aprendizado e desenvolve outras habilidades por meio de atividades extracurriculares. Além disso, elimina períodos ociosos, caso a criança estivesse em casa.

Hoje, a maioria das instituições de ensino possui uma carga horária reduzida de quatro horas diárias que, se ampliadas para sete horas, resultará em um nível de maior qualidade de ensino. Nessas três horas a mais que permanecem na escola, os estudantes podem receber reforço de disciplinas específicas e realizar atividades culturais como dança, teatro, música e práticas esportivas.

É na escola que parte da personalidade da criança é formada, pois ela passa a se relacionar com outras crianças, aprende que os laços da amizade são importantes, a respeitar ao próximo e a exercitar a criatividade. Com um tempo de frequência maior, os alunos poderão aprender muito mais, resultando na construção de cidadãos de bem.

A educação é um dos pilares para uma sociedade fortalecida e sadia. Não podemos deixar que essa solução para tantos problemas acabe passando despercebida. Precisamos investir, e muito. Mas esse trabalho deve ser feito em conjunto, pois na coletividade conseguiremos obter o êxito esperado. Por isso o papel da instituição de ensino não deve se privar à transmissão de conteúdos pedagógicos. A escola deve ter como propósito a formação integral do aluno.

É preciso difundir não só a alfabetização, mas um ensino de qualidade, que proporcione ao cidadão, mesmos aqueles das camadas mais pobres, a reflexão e o entendimento sobre seus direitos. Somente assim, será possível construir uma sociedade mais democrática para todos.

Artigo assinado por Elizabeth Bettega Castor, presidente do Centro de Educação João Paulo II, publicado na edição de 19 de setembro de 2014 da Gazeta do Povo.